My Strawberry Nights

A janela da sala da Maria é também a janela para a casa da vizinha. A vizinha que passa o dia à janela. Mete um braço no parapeito da janela, o computador à frente dela, e está naquilo todo o dia. Ao meio-dia vê televisão através do TvTuga. À tarde viaja por blogues de culinária e de mulheres entediadas para mulheres entediadas. À noite volta ao TvTuga. Isto enquanto come refeições simples ou bebe iogurtes líquidos. Quando a janela se fecha, ela não está em casa.
As janelas são assim. Espreitamos e espreitam-nos através delas. Fazem-nos sonhar e sair de casa sem nos mechermos. Os outros, esses entram no nosso mundo sem autorização, sem deixar pegadas ou impressões digitais.
Com as portas é diferente. As portas são abertas pelo convite de quem aquele mundo pertence. Os convites podem passar por um simples pedido para entrar ou pela cerimoniosa entrega da chave. E sobre isso há muito que pensar. Muito que escrever. Tanto como haveria para divagar sobre a vizinha da janela da frente da sala da Maria.