Grandes Ódios - com Letra grande

Há umas noites falava-lhe de um dos meus Ódios de Estimação. Pareceu-me uma boa oportunidade dizer-lhe que aquele ser de pés afastados era um dos que fazia parte da minha lista mental, dividida em volumes, da categoria Ódios de Estimação. A ocasião não foi especial. Ele entrou no café onde nós estávamos. Ela conhecia-o, como suspeitei. Questionou-me pela razão. Não era díficil e não é preciso muito para ser um Ódio de Estimação - com o pronome possessivo - meu. Mas é preciso obedecer a algumas regras que considero básicas. Por exemplo, um gajo que anda de gorro e t-shirt, ou de t-shirt e cachecol, corre o sério risco de se tornar um Ódio de Estimação, tal como uma gaja que sai à noite com roupas brilhantes. Ou pessoas que usam chapéus brancos (deste estilo) e aqueles que dizem bóina quando se querem referir a uma boina. Mas não são factores decisivos. No caso específico daquele Ódio de Estimação, e eu preso muito os meus, era o cabelo, os óculos, a careta sempre de nojo em riste e, principalmente, a postura. O gajo até a conduzir tinha o ar altivo que encaixava tão bem como uma abóbora num pinhal.
Ela conhecia-o e também não gostava dele. Eu não o conhecia, joguei com o preconceito, e também não gostava dele. Ganhei, mas continuo sem perceber como é que um gajo daqueles não é castrado.